quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Crueldade

Arranhas me o coração
Com garras de nojo e fel
E sacodes o teu papel
Na minha ímpia degradação

Sou barro crivado de sal
Cujo toque chagas abre
Fio sangrento do meu sabre
Ardendo em espasmos de mal

Sei que mil vezes morrerei
P’ra teu doce travo sentir
Por seda, ferrões sofrerei

E, se das trevas não subir
Laços de dor enviarei
E a meu lado te ver cair

(Charneca de Caparica, 2009)

9 comentários:

  1. Ressentimento puro, amalgama de sentimentos tão fieis a meus outros... Gosto do tom agridoce.

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  2. Após uma queda, até o mais puro dos anjos se torna um demónio... o que nos ensinará mais... a vergonha de cair ou o orgulho de voltar a subir?

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  3. Nem a queda é vergonhosa nem a subida motivo de orgulho...Tudo é tão dual, que pode ser exactamente o contrário... Podes ter orgulho, como eu tenho, das cicatrizas da queda e podes nunca querer voltar a subir.... "Beauty is on the eyes of the beholder"

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  4. Good point, Vincent! "The mind is it's own place, and in itself, can make a heaven of hell and a hell of heaven" John Milton in Paradise Lost

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  5. da experiência da dor do desamor, devo dizer-te que após o ódio deve existir elevação espiritual suficiente para que essa pessoa (ou monstro? ;)seja tratada com indiferença ou, pelo menos, como peça fundamental no grande desafio cósmico no qual consiste o milagre, misterioso, da existência.

    não odeies...deseja bem,
    não te aproximes...distancia-te.
    cria...purifica-te.
    reapaixona-te...um novo amor.
    que a cicatriza da dor seja motivo para receberes um bálsamo de calor.

    (ufff tempestade mesmo, quase ía sendo derrubada poor tanto fel e ausência de mel ;)

    um sorriso e boa semana, lago

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  6. Eu avisei, frAgMeNtus praia... que a tempestade era brava. Já estás arrependida de a ter invocado? no entanto, aina está a meio... faltam 2 poemas para terminar esta série... em breve chegarão ao Lago.

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  7. Uma bela tempestade que deverá seguir o seu curso... nem antes nem depois do devido deverá perecer... a tormenta morrerá em calmaria quando o Lago sentir a mesma... :)

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  8. avisaste mas depois da tempestade, vem a bonanza :) preparada para mais um poema teu

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