segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Devaneio rubro

Gáudio de vista
É o lembrar-te, Lira,
Trinando minh’alma
Em redemoinhos de mel

Orgiástica ventura
Libertária, suprema,
Tua mão, minha pena
Oh ausência dura e cruel

Suposição de loucura
Granada que, por amor,
Explode em águas profundas
No abismo frio e escuro
Onde monstros sanguinários
Vivem, sofrem, doem,
Morrem...
Sob os cascos fendidos das Fúrias
Sob as derrocadas, longas e despojadas,
De personas lúgubres e mirradas.

A altitude enjoa, agora.
Oh Corpo de Gigante Irado
Enebriado de sal e gemas
Jóias de luz esperançada,
Cor, símbolo de vida
Chaga de inconsciências aveludadas.
Oh, Vôo de ave cega e desdenhada.

(Lisboa, 2004)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

?Original

“Chove lá fora”
Como início de poema
Nada tem de original
Começando p’lo tema
Nada neste colabora
Para uma arte desigual

“São anjos que choram”
Assim o poeta diria
Eu, jamais fui tal
Lágrimas de maresia
Na minha face rolam
E a chuva não tem sal

“Anjos alvos que agora”
Anjo, conheço uma
É demónio por igual
Lembro-a na doce bruma
Onde mia paixão mora
Céu, inferno pessoal

“No meu coração moram”
Nada mais tem guarida
Que o meu sangue vital
Memórias tuas, querida
Belas, gloriosas, decoram
Todo o meu córtex cerebral


(Boston, 2001)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Contemplativo desespero

Estou só
Solto
Etéreo por sobre mim
Contemplo-me pesaroso

Contemplo-o

Liberto
Imaterial
Componho a massa lenta
De uma emergente empatia

Por ele... por mim

A Dor
Partilho
Ele revê-se na não-dor
Esta reprime com pudor

Vazio

Amorfa
Pesada
É esta empatia p’lo desespero
Emudecido, mas presente

Sinto-o

De fora
De mim
Revejo labirintos de
Mentira, de rubro sangue

Derramado

Tão só
Tão sua
Que lágrimas apenas escorrem
Na íntima face de dentro

Da alma


(Boston, 2002)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

A minha dor

Lágrimas inconstantes
Humedecem a neblina
Que, como uma mão extremosa,
Afaga as lápides com os
Gélidos dedos da ausência
De Amor...