quinta-feira, 18 de junho de 2009

O óbvio

Claro que conheci a destreza dos sonhos. Aprendi tanto, nesses largos vôos. No início era cair, admito-o. Ao saber, ter a certeza, atirava-me de cabeça, de plataforma elevada e coesa, e mergulhava para o fundo, sem temer nenhum mal. Nunca temi engano letal. Sabia-a, sentia-a, a certeza de saber que sonhava, na orgia do impossível, na observação rigorosa e crítica das dobras do irreal. E quando a janela batia, sozinha, eu corria antes que o onírico partisse, e me prendesse na realidade enfadonha. Nada me impedia então... saltava... libertando-me na atmosfera fingida, puxado por uma gravidade inexistente. Descia em longos e ínfimos temporais. Ao tocar o chão, nem sempre surpreso, por vezes, levantava-me, intocado por leis da física racional; noutras almas, em fugazes, e agora irrepetíveis, coroas de infância distante, sonhos meninos, mergulhava em diferente dimensional, todo branco, luz homogénea e fria, pejado de doces alegorias em formas geométricas (cubos, cilindros, cones) multicolores e miméticos de um mar sem luz nem sal.

(Caparica, 2005)

2 comentários: